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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Start-up Nation? Os motivos do milagre econômico israelense

Start-up Nation? Os motivos do milagre econômico israelense 16/09/2013 Escrito por Colaboradores+ Ciência e Tecnologia por Amir Szuster O que fez com que um país tão pequeno se tornasse referência mundial em diversos campos desde setores básicos como a agricultura até setores mais avançados, como a indústria bélica e o desenvolvimento de chips e aplicativos? Uma opção de resposta se encontra no famoso livro de Dan Senor e Saul Singer: Start-Up Nation, The Story of Israel’s Economic Miracle. (Em português, Nação Empreendedora, Milagre Econômico de Israel e o Que Ele Nos Ensina). 
Apesar de eu particularmente não gostar muito da forma na qual o livro expõe sua teoria, já que os autores se baseiam apenas em casos de personagens bem sucedidos, limitando seus exemplos somente àqueles que suportam suas teorias, e exagerando na retórica para justificar seus pontos 1; o livro mesmo assim, apresenta insights convincentes sobre os motivos do milagre econômico israelense. O livro está focado na indústria de alta tecnologia, mas abrange a economia de Israel como um todo e explica de que forma um país tão pequeno, sem recursos naturais, com uma população extremamente heterogênea, rodeado de ameaças externas e com a necessidade de absorção constante de massas de imigrantes, conseguiu em apenas sessenta anos, tornar-se referência mundial em diversos setores. Os autores destacam a capacidade do país de viver em um estado de guerra e, mesmo assim, conseguir manter uma economia em rápido crescimento. Mais ainda. Eles destacam a habilidade única dos israelenses de transformar ameaças em oportunidades. Senor e Singer apontam para diversos fatores que influenciaram e permitiram o desenvolvimento ocorrido no país. Eles começam demonstrando o quanto os israelenses são pessoas persistentes, especialmente caracterizados por terem “chutzpa”, uma palavra de difícil tradução, que é usada no livro como sinônimo de audácia, ousadia, “cara de pau”. O desenho da sociedade israelense também é destaque entre as explicações do avanço econômico. 
Os autores destacam o papel do exército no amadurecimento dos jovens, e exemplificam isso com a rapidez com que jovens passam a ser comandantes. A necessidade de zelar pela vida de outros soldados e de ter que tomar decisões em situações de conflito, acelera o ganho de responsabilidade e a capacidade de trabalhar sob pressão, características fundamentais para a formação de futuros empreendedores. A nação de imigrantes serve como explicação para a disposição por tomar riscos. Um novo imigrante tem que superar desafios, começar tudo novamente do zero. Ele tem mais facilidade de largar a zona de conforto e tentar novos empreendimentos. Em especial, o livro destaca o papel fundamental da alia russa, uma massa de imigrantes que chegou em Israel no fim dos anos 80 e início dos anos 90, e que trouxe a Israel milhares de trabalhadores qualificados.
A política do recém-criado Estado também recebe a devida atenção. Ao longo da história, os governos israelenses souberam como estabelecer políticas de incentivos e criar instituições que facilitaram o desenvolvimento e permitiram a exploração do vasto potencial existente no país. Esta explicação está de acordo com a visão de dois renomados economistas, Daron Acemoglu e James Robinson, que enfocam no livro Why Nations Fail? (em português, Por que as Nações Fracassam?) o papel fundamental das instituições de um país para o seu êxito ou seu fracasso. Outro fator abordado se refere à ajuda da diáspora. Segundo os autores, com o passar do tempo, os judeus do mundo passaram a ajudar Israel não apenas por motivos filantrópicos, mas também por perceberem que o investimento no país poderia valer a pena. Poucos lugares do mundo têm uma proporção tão alta de capital humano especializado, com destaque para as áreas de ciências exatas. Por fim, e não menos importante, os autores mostram que um histórico de boicotes a Israel, além de outras dificuldades, fizeram com que o país focasse seus esforços em ser independente em setores estratégicos. Somados, estes fatores são os que motivaram (e ainda motivam) o crescimento e desenvolvimento deste pequeno país em um período tão curto de tempo. Um pequeno milagre num mundo repleto de histórias opostas.
Eu acredito que os fatores para o sucesso de Israel citados no livro são todos importantes, apesar de não conclusivos. Por exemplo, eu poderia dizer que os altos gastos no exército, o número gigantesco de imigrantes, a falta de estrutura ou mesmo o jeito audacioso poderiam ser os motivos para o fracasso, e não para o sucesso. Poderíamos ter falhado em nos tornar uma sociedade democrática, pela grande influência do exército na sociedade. Poderíamos ter fracassado com a política imigratória e assim ter gerado divisões sociais insuperáveis, que poderiam ter culminado em guerras civis. Poderíamos ter formado uma elite de “audaciosos” que se preocuparia apenas com a sua manutenção no poder, sem pensar propriamente no desenvolvimento do país. Exemplos como estes não faltam entre as nações do mundo. Em suma, poderíamos estar contando outra história com os mesmos exemplos. Apesar desta crítica, se considerarmos que os autores apresentam inúmeros insights que devem ser melhor investigados, o livro de fato apresenta pontos muito interessantes e novas ideias sobre o desenvolvimento de Israel que podem servir como modelo para o desenvolvimento de outros países. Por fim, adicionaria um insight que os autores não abordam no livro, mas que na minha visão contribuiu muito para o sucesso alcançado neste país: a capacidade dos imigrantes de superar obstáculos e não desistir mesmo sob as piores condições. Ou seja, a existência de um propósito na criação deste Estado. Para justificar meu ponto, tomarei como exemplo o período das imigrações para Israel.
Desde 1882, ondas de imigrantes judeus chegaram a Palestina e se assentaram em regiões pantanosas, sem infra-estrutura e sob constante ameaça dos governantes e habitantes locais. Os novos imigrantes conviveram com dificuldades como: não ter uma língua em comum, possuir pouco ou nenhum conhecimento agrícola e viver em regiões endêmicas de malária. O período do mandato britânico não facilitou a vida dos judeus da Palestina; eles passaram a conviver com restrições à imigração e com o início dos conflitos nacionais com os habitantes árabes. Novamente, posso explicar grande parte do desenvolvimento pré-Estado pelas instituições criadas pela Organização Sionista Mundial ou pelo rápido desenvolvimento de uma liderança judaica na Palestina. Assim como pelo grande número de imigrantes qualificados, pela ajuda externa de judeus da diáspora e pelo apoio de algumas potências mundiais. Todos estes são motivos plausíveis e possivelmente corretos para explicar o sucesso do empreendimento sionista. No entanto, se aponto apenas para eles, novamente, estaria deixando de lado um fator essencial a meu ver: a enorme superação dos imigrantes e sua capacidade de não desistir perante as dificuldades. Não tenho como provar meu ponto. Não tenho como comparar este quesito com outros países.
Não existe uma escala objetiva que possa medir vontade e dedicação. Da mesma forma que expõe o livro, eu apenas proponho um insight que acredito ser extremamente importante para justificar o êxito deste pequeno país. Em Israel, os imigrantes vieram com uma motivação maior. Eles não queriam deixar passar a oportunidade de criar este país. Os adeptos de futebol sabem que uma equipe pode ser excelente em qualidade técnica e estar muito bem armada taticamente, mas isso não necessariamente é suficiente para vencer os jogos. Muitas vezes, excelentes equipes perdem para outras que jogam com mais raça. Que jogam porque precisam vencer a qualquer custo. O livro explica de forma convincente a parte da qualidade técnica e da formação tática da equipe, mas deixa de lado os elementos invisíveis: a capacidade de superação e a vontade de ganhar o jogo.

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